O amor como um caminho
- Ministério de Ensino Vidas Restauradas
- 18 de ago. de 2020
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No capítulo 13 da primeira carta de Paulo aos Coríntios, encontramos um dos mais belos textos com a temática do amor. Citado até mesmo na literatura de Luís Vaz de Camões, este texto revela que o amor deve estar presente em tudo que fazemos, caso contrário nada terá valor. Podemos distribuir nossos bens, termos o dom de profetizar e até mesmo darmos a nossa vida em favor de alguém, mas o amor é o que valida todas essas ações.
Para a sociedade moderna, muito se fala na importância de amar e ser amado. Existe uma cobrança pessoal e social, exigindo que as relações sejam pautadas no amor, para que a vida faça sentido e não entre em um caos existencial. Rubem Alves em sua obra: O que é religião? (1999) nos traz a realidade de um mundo que sofre com a ausência desses sentidos, em detrimento de uma vida puramente utilitária, onde o mundo “material” construído pelo racionalismo e produtividade do trabalho nos molda e dita às regras.
Como consequência, vivemos um fenômeno de relações baseadas pelo interesse e pela falta de compromisso. São relações descartáveis que nas palavras de Bauman (2004) se caracterizam pela sua liquidez. Raramente encontrarmos relações sólidas construídas pela fidelidade e confiança. Portanto o amor está em alta, porém percebemos que esta “popularidade” consta apenas no discurso, pois na prática continua ausente, tanto no mundo secularizado como no religioso. Essa ausência traz a urgência de voltarmos aos ensinamentos de Jesus:
E um deles, doutor da lei, interrogou-o para experimentá-lo, dizendo: Mestre, qual é o grande mandamento na lei? E Jesus disse-lhe: Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento. Este é o primeiro e grande mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos dependem toda a lei e os profetas. (Mateus 22:35-40)
Nesta afirmação Jesus revela que o propósito de Deus era que a humanidade caminhasse em Seu amor[1]. Este também era o plano Dele ao estabelecer os mandamentos da lei mosaica. Perceba que nestes versículos existem duas ordenanças, em primeiro lugar precisamos amar ao Deus que nos criou, e em segundo lugar devemos amar ao nosso próximo como amamos a nós mesmos.
Disso entendemos que para amar alguém, precisamos nos amar primeiro, pois uma coisa está condicionada à outra. Provavelmente uma pessoa que não consegue amar os outros é porque não possui amor próprio, pois só damos a alguém aquilo que temos. Da mesma forma só conseguimos perdoar verdadeiramente se perdoarmos nossos próprios erros, geralmente pessoas muito enérgicas que exigem muito dos outros, exigem muito de si mesmas.
Para o mundo o amor é um sentimento, para a maioria dos cristãos ele é um dom, mas para o apóstolo Paulo o amor é um caminho:
Portanto, procurai com zelo os melhores dons; e eu vos mostrarei um caminho mais excelente. (1 Coríntios 12:31)
Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor seria como o metal que soa ou como o sino que tine. E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria. E ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse amor, nada disso me aproveitaria. O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não trata com leviandade, não se ensoberbece. Não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal; Não folga com a injustiça, mas folga com a verdade; Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O amor nunca falha; mas havendo profecias, serão aniquiladas; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, desaparecerá; Porque, em parte, conhecemos, e em parte profetizamos.”
(1Co 13:1-9)
Como caminho Paulo apresenta o amor como um modo de viver. É certo que Deus nos amou primeiro e por isso possibilitou que este amor existisse dentro de nós. Amamos verdadeiramente quando temos a experiência de sentirmos o amor de Deus, em outras palavras amamos quando nos sentimos amados, oferecemos ao outro aquilo que recebemos do próprio Deus.
Contudo o amor não é apenas sentimentalismo, é também um ato de decisão. Quando educamos um filho, por exemplo, mesmo amando-o precisamos corrigi-lo, esta correção talvez não esteja imbuída de sentimentos de ternura, mas decidir corrigir não passando a mão na cabeça, torna-se um ato de amor a medida em que eu entendo que esta conduta levará meu filho a amadurecer como pessoa e lhe dará condições de enfrentar as dificuldades da vida.
Em Lucas (10:30-37) encontramos outro exemplo do amor como ato de decisão. Este texto narra à história de três pessoas: um sacerdote, um levita e um homem samaritano. Esses três encontraram pelo caminho um homem com muitos ferimentos, por ter sido agredido por ladrões. Esperava-se que tanto o sacerdote como o levita lhe socorressem, entretanto, o único que tomou esta decisão foi o samaritano. Portanto muitas vezes o ato de amar é mais racional do que sentimental.
Voltando a afirmação de Jesus, devemos amar o nosso próximo, em tese este próximo não é apenas a minha família, meu esposo, meus amigos e irmãos da igreja. O nosso próximo também é nossos inimigos, aqueles que nos perseguem e aqueles que eu discordo.
Ao considerarmos o amor como caminho de decisão, mudamos nossa perspectiva e ampliamos nosso entendimento. Portanto, precisamos urgentemente escolher trilhar este caminho que é sobremodo excelente, pois quem ama cuida, perdoa, quem ama faz a obra com excelência, e quem ama anuncia a salvação de Jesus para as almas que estão perdidas, sofridas e cansadas. Este caminho nos retira do nosso egocentrismo em direção à vontade do Pai que em sua natureza é amor.
Ministério de Ensino Vidas Restauradas
[1]No grego temos três tipos de amor: Ágape que é o amor incondicional; Philos que é o amor fraternal e o Eros que é o amor conjugal.
Referências
ALVES, Rubem. O que é religião? São Paulo: Loyola, 1999.
BAUMAN, Zygmunt. Amor líquido: sobre a fragilidade dos laços humanos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2004.
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