O chamado que exige mudança: a ortopraxia cristã
- Ministério de Ensino Vidas Restauradas
- 14 de ago. de 2020
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Aceitar o chamado de Deus compreende vivermos uma vida condizente com a nossa vocação. Apesar desta nova vida exigir um esforço pessoal, ela será efetiva apenas se houver uma mudança de dentro para fora. Por isso precisamos entender o verdadeiro significado da conversão e sua relação com a ortopraxia que quer dizer ação correta.
Na carta de Paulo a Timóteo o apóstolo diz: “Ninguém despreze a tua mocidade, pelo contrário, torna-te padrão dos fiéis, na palavra, no procedimento, no amor, na fé, na pureza” (1 Timóteo 4:12), tornar-se padrão significa ser o exemplo, a referência e o modelo. Para aqueles que não vivenciaram uma verdadeira conversão, esta exigência se torna um peso, algo inalcançável e impossível de conseguir. Isto porque a pessoa pensa que se tornará padrão de conduta pelos próprios méritos, e se assim for de fato não conseguirá. Em contrapartida aquele que verdadeiramente se converte à Jesus, permitindo que o Espírito Santo o limpe e o transforme, possivelmente se tornará um modelo e uma referência para muitos.
A pergunta que podemos fazer é a seguinte: Existe a possibilidade de alguém aceitar Jesus, mas não viver uma mudança de vida? A resposta é sim! O próprio Jesus revelou isso a Nicodemos:
Ora, havia entre os fariseus um homem chamado Nicodemos, um dos principais dos judeus. Este foi ter com Jesus, de noite, e disse-lhe: Rabi, sabemos que és Mestre, vindo de Deus; pois ninguém pode fazer estes sinais que tu fazes, se Deus não estiver com ele. Respondeu-lhe Jesus: Em verdade, em verdade te digo que se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus. Perguntou-lhe Nicodemos: Como pode um homem nascer, sendo velho? Porventura pode tornar a entrar no ventre de sua mãe, e nascer? Jesus respondeu: Em verdade, em verdade te digo que se alguém não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus. O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito. Não te admires de eu te haver dito: Necessário vos é nascer de novo. O vento sopra onde quer, e ouves a sua voz; mas não sabes donde vem, nem para onde vai; assim é todo aquele que é nascido do Espírito. Perguntou-lhe Nicodemos: Como pode ser isto? Respondeu-lhe Jesus: Tu és mestre em Israel, e não entendes estas coisas? Em verdade, em verdade te digo que nós dizemos o que sabemos e testemunhamos o que temos visto; e não aceitais o nosso testemunho! Se vos falei de coisas terrestres, e não credes, como crereis, se vos falar das celestiais? Ora, ninguém subiu ao céu, senão o que desceu do céu, o Filho do homem. (João 3:1-13)
Nesta passagem Jesus afirma a necessidade do novo nascimento, pois aquele que não nasce da água e do Espírito não vive a vontade de Deus e tampouco as mudanças advindas da condição de ser cidadão do reino de Deus. Muitos não vivenciam esta mudança porque aceitaram Jesus apenas da boca para fora, mas não abriram o coração para que Jesus entrasse de fato em suas vidas. Cabe a nós escolhermos se desejamos ou não esta mudança, pois à semelhança da salvação, a mudança também depende do livre arbítrio.
O conceito teológico do livre arbítrio compreende que o ser humano foi criado, com liberdade de escolha e decisão. Esta condição foi possível pelo fato do homem ser dotado de razão, permitindo escolher entre o bem e o mal, a salvação ou condenação, a mudança ou a mesmice. Por este motivo o homem é responsável por suas escolhas e pelas conseqüências delas.
Apenas os verdadeiramente convertidos, ou seja, aqueles que nasceram de novo conseguem cumprir a exigência da palavra:
Mas vós não aprendestes assim a Cristo se é que o ouvistes, e nele fostes instruídos, conforme é a verdade em Jesus, a despojar-vos, quanto ao procedimento anterior, do velho homem, que se corrompe pelas concupiscências do engano; a vos renovar no espírito da vossa mente; e a vos revestir do novo homem, que segundo Deus foi criado em verdadeira justiça e santidade. Pelo que deixai a mentira, e falai a verdade cada um com o seu próximo, pois somos membros uns dos outros. Irai-vos, e não pequeis; não se ponha o sol sobre a vossa ira; nem deis lugar ao Diabo. Aquele que furtava, não furte mais; antes trabalhe, fazendo com as mãos o que é bom, para que tenha o que repartir com o que tem necessidade. Não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe, mas ó a que seja boa para a necessária edificação, a fim de que ministre graça aos que a ouvem. E não entristeçais o Espírito Santo de Deus, no qual fostes selados para o dia da redenção. Toda a amargura, e cólera, e ira, e gritaria, e blasfêmia sejam tiradas dentre vós, bem como toda a malícia. Antes sede bondosos uns para com os outros, compassivos, perdoando-vos uns aos outros, como também Deus vos perdoou em Cristo. (Efésios 4:20-32)
Revestir-se deste novo homem é o grande desafio para aqueles que aceitam o chamado de Deus. A palavra orto quer dizer reto e praxia significa prática, neste sentido aqueles que desejam por livre escolha tornar-se padrão dos fiéis, precisam demonstrar a sua fé por meio de suas ações corretas e coerentes com a palavra de Deus.
Para John Wesley (RUNYON, 2002) ao sermos salvos mediante a fé, passamos por três processos que nos levam a esta condição. O primeiro se dá pela justificação, quando pelo arrependimento Jesus retira de nós a culpa originada pelo pecado. O segundo processo é o da regeneração que é justamente a condição do novo nascimento. A regeneração transforma o interior da pessoa, transforma sua vontade e a sua inclinação natural ao pecado. Este processo realizado pelo Espírito Santo nos leva a escolhermos a vontade de Deus ao invés da vontade da carne. Trata-se de uma mudança interna, onde a imagem de Deus é regenerada em nós. Não deixaremos de pecar, mas o pecado nos trará incomodo e se pecarmos teremos a consciência de que precisamos ser limpos por Jesus.
A santificação como terceiro processo nos direciona a perfeição moral e espiritual, mediante uma vida de consagração a Deus. O processo de santificação exige uma renúncia pessoal, de abdicar dos prazeres deste mundo para entrarmos na presença de Deus de coração limpo. Este processo é mediado pela vida de oração, jejum e leitura da palavra. Somente pela santificação teremos os frutos do Espírito e nos aproximaremos de Deus, pois sem ela ninguém verá o Senhor conforme Hebreus 12:14.
Muitos atropelam essas etapas, querem ter os frutos do Espírito e uma vida exemplar sem renunciar seu próprio “eu”. Alguns líderes se auto enganam, rotulam-se santos e íntegros sem passar por esses processos que são contínuos, pois todos os dias precisamos nos santificar. À semelhança dos fariseus muitos querem ser reconhecidos como homens virtuosos, porém não se submetem às exigências da palavra, que requer de nós o novo nascimento genuíno. O chamado exige esta mudança de postura e de conduta, para então nos tornarmos ortopráticos revelando a nossa verdadeira conversão.
Ministério de Ensino Vidas Restauradas
Referências
RUNYON, Theodore. A nova criação: a teologia de João Wesley hoje. São Bernardo do Campo: Editeo, 2002.
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